CIDADE DO VATICANO — Israel saudou nesta quinta-feira a isenção do povo judeu da morte de Jesus Cristo, manifesta pelo Papa Bento XVI em um novo livro que será publicado na próxima semana.
O Papa escreveu que os responsáveis pela crucificação de Cristo foram a "aristocracia do templo" em Jerusalém e as "massas" que escolheram libertar Barrabás no lugar de Jesus - e não "o povo judeu como um todo".
Trechos do livro, o segundo volume de uma biografia de Cristo escrita pelo Papa, foram publicados no jornal oficial do Vaticano, Osservatore Romano, antes de sua apresentação formal em 10 de março.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, elogiou a "coragem" do Papa.
"Eu o elogio por rejeitar vigorosamente em seu último livro uma acusação falsa que esteve na origem do ódio contra o povo judeu por muitos séculos", declarou Netanyahu em um comunicado.
"Minha esperança fervorosa é que sua clareza e coragem fortaleçam as relações entre judeus e cristãos em todo o mundo e promovam a paz e a reconciliação por muitas gerações", acrescentou.
A embaixada de Israel no Vaticano reagiu com "alegria" e destacou que os comentários eram "uma confirmação da amplamente conhecida atitude positiva do Papa com relação ao povo judeu e ao Estado de Israel".
O Congresso Mundial Judaico também elogiou o pontífice e seu diretor, Ronald Lauder, afirmou que "já era mais do que tempo de, dois mil anos depois do ocorrido, o chefe da Igreja Católica fazer uma declaração clara sobre isto".
"Ele estabeleceu uma marca importante contra o antissemitismo na Igreja", acrescentou.
"Os judeus sofreram perseguição brutal e antissemitismo porque os cristãos os consideravam coletivamente responsáveis pelo assassinato de Jesus Cristo, mesmo ele próprio sendo judeu e crucificado pelos dominadores romanos", acrescentou.
Em 1965, o Concílio Vaticano Segundo publicou um documento conhecido como Nostra Aetate, que rejeitou completamente a ideia da culpa judaica pela morte de Jesus e condenou qualquer tentativa de apresentar os judeus como um povo rejeitado por Deus.
Mas as tensões entre as duas confissões religiosas vieram à tona nos últimos anos.
Em 2007, o Papa restabeleceu uma "oração pela conversão dos judeus".
No ano seguinte, ele enfureceu a comunidade judaica com a decisão de suspender a excomunhão ao bispo Richard Williamson, um negacionista do Holocausto.
Outro episódio que causou controvérsia foi a mobilização do Vaticano para canonizar Pio XII, papa durante a Segunda Guerra Mundial, cujo silêncio público sobre o Holocausto foi amplamente criticado.
David Rosen, diretor de assuntos interreligiosos do Comitê Judaico Americano (CJA), disse à AFP que o livro é importante porque as palavras de Bento XVI serão lidas por milhões de católicos.
"A maioria das pessoas na Igreja Católica não tem ideia do que está escrito em documentos do Vaticano, mas quando se trata de um comentário papal, ele chegará a muitos milhões em todo o mundo", afirmou.
Rosen destacou o aspecto mais fascinante da interpretação do Papa sobre o Evangelho de Mateus 27:25, trecho no qual a multidão diz ao governador romano Pôncio Pilatos: "o seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos".
"Sua interpretação daquela declaração foi que os judeus não eram culpados coletivamente, mas que toda a humanidade é redimida pelo sangue de Jesus, ao invés de serem todos culpados", afirmou.
Marco Politi, vaticanista do jornal italiano Il Fatto, disse que as palavras do Papa eram "um sinal positivo para o povo judeu, demonstrando que Bento XVI não considera, absolutamente, os Evangelhos como uma base para qualquer antijudaísmo".
Outro observador de assuntos do Vaticano, Sandro Magister, destacou que as palavras do Papa foram "mais claras e mais explícitas do que todos os documentos oficiais" e disse esperar que elas "mudem mentalidades".
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